Aspectos fisiológicos e particularidades da floração de Cannabis sativa

“Aspectos fisiológicos e particularidades da floração de Cannabis sativa” por Vítor Grower e Fernando Santiago
Conhecer o ciclo da espécie vegetal que se tem interesse em cultivar é de suma importância, onde o detalhamento de cada estádio fenológico da planta faz toda a diferença na produtividade. Nesse sentido, as particularidades na floração são bastante importantes e muitos cultivadores acreditam que qualquer desordem que ocorra nesse período, a planta está com algo “errado” e isso não é verídico.
Faz parte do próprio ciclo da planta (principalmente nos estádios reprodutivos) ter algumas desordens, pois todo o foco nutricional dela está direcionado para a produção de flores (estão aumentando e qualificando as estruturas reprodutivas femininas para receberem o pólen da planta macho), para assim ocorrer toda a manutenção da progênie através da produção de sementes.
O que você vai encontrar aqui:
Crescimento vegetativo x floração
Para entendimento do ciclo, podemos dividir a vida da planta em duas grandes etapas: o crescimento vegetativo e a floração. Na época de floração, quando inicia a formação dos primeiros botões florais, os novos tecidos (que anteriormente eram foliares) sofrem conversões. A conversão do meristema caulinar vegetativo em estruturas reprodutivas é um evento dramático e enigmático no ciclo das plantas vasculares, e no caso específico da Cannabis sativa, está intimamente relacionado com a alteração do regime de fotoperíodo (indução de floração: 12/12*, com a ação dos pigmentos fitocromos R**) (Figura 1).
Posteriormente a estimulação pelo fotoperíodo, a indução floral refere-se às reações que sinalizam à planta da alteração do seu “programa” de desenvolvimento, e uma dessas reações é a ação do pigmento proteico fitocromo R (pigmento com coloração azul). Como consequência, o meristema caulinar se reestrutura para produzir um primórdio floral ao invés de um primórdio foliar. A produção floral acontece comumente nos locais onde iria ocorrer a formação de novas folhas (Figura 2).
*12/12: 12 horas de luz/12 horas de escuridão;
**Os fitocromos R são pigmentos protéicos de coloração azul, responsáveis for absorver luz vermelha. O fitocromo é acumulado na planta quando há uma mudança de fotoperíodo, com mais horas de escuridão (exemplo: 12/12).


Diante de todas essas alterações fisiológicas e consequente produção de novos tecidos florais, várias mudanças também são observadas visualmente e é válido ressaltar que a grande maioria das Strains passarão por esses “momentos” e que são ocasiões comuns.
Entretanto, o cultivador não deve se preocupar em demasia e compreender que as “anormalidades” fazem parte do ciclo da planta e que por ela se encontrar em estádios de florescimento, a mesma se prepara para a senescência (morte). Algumas manifestações que a planta geralmente evidenciará na época de floração são:
- Deficiências nutricionais podem ser mostradas nas folhas, porém é recomendável a manutenção dos níveis adequados de nutrientes específicos (exemplos: P e K), para haver um adequado enchimento das flores;
- Amarelecimento de folhas (os fotoassimilados na época da floração estão sendo translocados para a produção de flores). É comum ocorrer deficiência de N nas folhas, onde esse nutriente não é altamente demandado na floração (Figura 3);
- Pode ocorrer desfolha natural, dependendo da maturação que o cultivador deseja (quanto mais dias de ciclo, mais proximidade com a senescência da genética e maior nível de desfolha);
- Devido à planta estar mais debilitada nos estádios de floração, é comum ocorrer maior suscetibilidade a patógenos e insetos/aracnídeos. Nesses casos, dependendo da quantidade de inóculo (patógeno) ou população (inseto/arcanídeo) pode ser necessário entrar com o controle.

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