Conheça 2 novos canabinóides identificados pela ciência: THCP e CBDP

A cannabis está em foco na ciência. Com a abertura dos mercados internacionais para o uso adulto, novas pesquisas científicas sobre a planta estão sendo realizadas.
Isso é uma ótima notícia para que todos possamos usufruir com segurança das propriedades e substâncias canábicas. Os estudos também contribuem com o fim do proibicionismo e da estigmatização dos usuários.
E um artigo publicado na revista Nature na seção Scientific Reports revelou dois novos canabinóides: o THCP e CBDP.
Os canabinóides e os efeitos da cannabis
O termo “canabinóide” é inspirado na cannabis – as primeiras pesquisas sobre a planta identificaram os compostos químicos canabidiol (CBD) e tetrahidrocanabinol (THC).
Anos depois foi descoberto o Sistema Endocanabinóide (SEC) – o corpo humano (e de mamíferos em geral) produzem canabinóides e possuem diversos receptores para absorção da substância.
Assim, se de origem vegetal, são chamados de fitocanabinoides.
Se produzidos pelo próprio organismo humano, são chamados de endocanabinóides.
Em geral, os canabinóides servem para ajudar a regular e equilibrar várias funções biológicas que ficam a cargo do sistema endocanabinoide.
Cada tipo de canabinóide tem seus próprios efeitos terapêuticos, como analgésicos, anti-inflamatórios e anticonvulsivantes, por isso podem ser usados para tratamento de doenças neurológicas.
É como se os receptores fossem fechaduras de estímulos que podem ser abertos com os canabinóides, as chaves.
Já existem quase 150 canabinóides identificados. Os mais conhecidos são o CBD e o THC.
CBD e THC: entenda as diferenças e efeitos colaterais de cada um

THCP: o verdadeiro responsável pelo efeito psicotrópico?
A pesquisa genética encontrou o canabinóide THCP. Uma molécula que possui estrutura e função semelhantes ao THC.
A diferença é que o THCP tem algo a mais: uma cadeia lateral com sete ligações (ao invés de cinco como o THC).
Essa cadeia alongada significa que o THCP possui maior afinidade com o receptor CB1 do que o THC regular. Ou seja, o THCP é 33 vezes mais ativo que o THC no receptor CB1 e de 5 a 10 vezes mais ativo no receptor CB2.
A ligação química aos receptores humanos é muito mais eficaz e potente!
Essa descoberta indica que é preciso repensar o THC enquanto principal responsável pelo efeito psicotrópico.
É mais provável que o THCP (e outros canabinóides ainda desconhecidos), por obterem maior potencial de ligação aos receptores endocanabinóides, tenham papel mais relevante no efeito psicotrópico.
Esse conhecimento também ajuda a explicar porque a cannabis e o uso terapêutico com doses iguais de THC podem provocar experiências muito diferentes entre os usuários.
CBDP: a definir
O CBDP também possui uma cadeia alongada com sete ligações.
Porém, a molécula não tem a mesma potência de ligação com os receptores CB1 e CB2.
Mesmo o CBD não possui afinidade considerável.
Portanto, os pesquisadores consideram quase improvável que o CBDP, por ter cadeia mais longa, seja mais eficaz na ligação.
O CBDP ainda precisa de maiores estudos e testes para uma compreensão clara de sua função e efeitos no corpo humano.

O impacto da descoberta
O estudo implica em uma nova forma de abordar o THC e como são necessárias mais pesquisas para perfilar outros canabinóides ainda desconhecidos.
Compreender a fundo o perfil genético da cannabis é fundamental para garantir o uso correto e eficiente nos mais variados segmentos do mercado canábico, especialmente para fins medicinais.
O resultado da pesquisa também demonstra a importância da variedade de cepas.
Atualmente, a maioria das cepas disponíveis são dominantes em THC ou CBD. Isso limita tanto a pesquisa científica quanto o acesso aos benefícios específicos farmacológicos e industriais da cannabis.
Cultivos em espécies ricas em canabinóides menores, e até altamente especializados, poderão ser tendência.
A pesquisa científica brasileira
O artigo que descobriu os novos canabinóides não é de origem brasileira.
Porém a pesquisa nacional está avançando.
A maior produção científica de Canabidiol é do Brasil!
E uma ótima notícia: em dezembro de 2022, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a concessão de Autorização Especial Simplificada para Estabelecimento de Ensino e Pesquisa (AEP) à Universidade Federal do Rio Grande do Norte. (UFRN).
A UFRN é a primeira instituição do país a conquistar a liberação para cultivo controlado e processamento da planta cannabis para fins de pesquisa científica. O Instituto do Cérebro (ICe-UFRN) conduzirá os projetos de pesquisa para avaliação da eficácia e da segurança de combinações da substância.
Em Santa Catarina, aUniversidade Federal de Santa Catarina (UFSC) se tornou a primeira instituição de ensino superior do País a obter uma medida judicial que lhe permite produzir todos os insumos para a pesquisa da aplicação da Cannabis na área da medicina veterinária. A 1ª Vara da Justiça Federal, em Florianópolis, concedeu um salvo-conduto que autoriza o pesquisador e professor Erik Amazonas, do Centro de Ciências Rurais (Campus de Curitibanos), a realizar o cultivo, preparo, produção, fabricação, depósito, porte e prescrição da Cannabis sativa. Com isso, a Faculdade de Medicina Veterinária do Campus de Curitibanos, pioneira no ensino do uso veterinário da Cannabis no Brasil, conquistou o inédito direito de cultivar a planta para fins de pesquisa veterinária.
Também temos expectativa positiva que a ciência nacional sobre cannabis seja impulsionada com a Lei 17.618/2023, que institui a política estadual de fornecimento gratuito de medicamentos à base de canabidiol em São Paulo.
Um dos objetivos da lei é: “promover políticas públicas de debate e fornecimento de informação a respeito do uso da medicina canábica por meio de palestras, fóruns, simpósios, cursos de capacitação de gestores e demais atos necessários para o conhecimento geral da população acerca da cannabis medicinal, realizando parcerias público-privadas com entidades, de preferência sem fins lucrativos.”
Todo o mercado canábico se beneficia com o fortalecimento da pesquisa científica sobre a cannabis. Isso é um ótimo estímulo à profissionalização e regulamentação das atividades do setor.
Os estudos contribuem também com a mudança de cultura: perde-se o medo sobre a planta e seus efeitos psicotrópicos.
E, assim, novos caminhos se tornam cada vez mais possíveis até chegar a completa legalização da planta, bem como maturidade social de acolher todos os usuários.

Como plantar cannabis no Brasil
A cannabis é uma planta proibida no Brasil. Porém, o cultivo com objetivo único de consumo pessoal é um crime sem pena de prisão que não gera reincidência.
Fora da possibilidade de consumo pessoal, apenas associações medicinais sem fins lucrativos têm conseguido autorização judicial para realizar cultivo coletivo. E recentemente a UFRN com finalidade de pesquisa científica.
Fique por dentro das novidades da ciência canábica!
Com um novo fôlego para pesquisas, com certeza teremos muitas novidades sobre a cannabis e suas múltiplas funções!
A dedicação da comunidade acadêmica em estudar o assunto é de grande valor social, político e econômico para o todos os usuários e o mercado canábico.
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